sábado, dezembro 29, 2007

A quê?

Última sexta do ano. Todos repetiam.
É a última. A última sexta! É hoje.
Última sexta do ano. Um brinde!
E se fosse a última sexta de todas?
Já era a segunda última sexta do ano que ela passava imobilizada. Ficara assim desde quando um membro muito importante fora arrancado sem aviso ou anestesia. Teria ido a mão direita? A esquerda? As pernas? Os braços? Todos eles? Qual seria o próximo?
E assim ela não conseguia acreditar nas palavras mil vezes repetidas: Feliz 2008!
Se não acreditava no futuro, não conseguia avaliar os 365 dias e as muitas sextas anteriores que haviam ficado pra trás. Tudo ficara tão pequeno, tão pouco. Lembrava que até suas lágrimas bobas, vinda de arranhões tão bobos quanto, sentiam vergonha e iam embora ao olhar para o membro amputado.
Mas era preciso sorrir. Era a última sexta do ano.
E ela puxou mais um brinde.