Essa é a história de uma menina míope. A pobrezinha não via um palmo diante do seu nariz. Isso só acontecia porque nariz ela não tinha. Seu rosto era diferente. Apenas 3 letras “O”: a de baixo só dava pra perceber que era um O quando ela fazia assim: Ó. E todos pensavam Ó quando olhavam pra ela. Era quando a menina sentia cheiro de estranheza. Mas isso é só maneira de falar. Já que ela não tinha nariz, não sentia cheiro nenhum. Nunca se perguntou por onde o ar entrava. Pelos olhos, com certeza. Não eram as janelas da alma? Mas almas não precisam de ar e sim os pulmões. E por isso ela era meio almática e por isso estava sempre com uma bombinha por perto, ufa! Quando o ar, fresco, não aparecia, a menina míope soltava uma bombinha e o ar assustado corria pra dentro. Onde será que ela havia metido seu nariz? Era aí que morava toda a desgraça: uma míope sem nariz: óculos sem suas muletas. Óculos mancos. Um perigo olhos borrados pisando em falso por aí.
Foi assim que a menina colocou lentes de vidro. E viu. Que suas janelas ganharam vitrôs. O ar tentava entrar, mas os olhos abertos estavam fechados. E, sem entender nada, ficou de fora vendo com nitidez a última crise da menina almática. Na lápide da menina, o carinho dos amigos: ela nunca meteu o nariz onde não tivesse sido chamada.