Meu nome é um quebra-gelo. Jamais comecei uma conversa com um desconhecido sem ter que dizer, não, não é francês, nem apelido. Aliás, menos com atendentes de telemarketing. Com eles não tenho paciência e confirmo: sim. É suZi mesmo, meu filho. Para as outras pessoas eu explico. Não que eu goste de explicar. O que não gosto mesmo é de Suzi.
Tudo começou porque nasci em Patrocínio, Minas Gerais. Se eu tivesse nascido em qualquer outro lugar tudo seria diferente. Naquela época (uso essa expressão por mero hábito literário, já que usar “há pouco tempo” diminuiria um pouco o carácter estorieto da estória) havia um boato na cidade: " Em Patrocínio só será registrado nome composto". Danou-se. Pensou minha mãe as 45 contrações do segundo tempo. Ela já havia escolhido o nome, seria Michelly. Aliás, meu pai quem escolheu. (Essa parte da história meu pai escapou de explicar graças a toda confusão do Sussy).
A bomba havia estourado no colo da minha mãe, logo depois da bolsa, pobrezinha. Com a filha nascida e de nome escolhido ela precisa pensar num outro nome só porque um Juiz decretara uma lei estranha. (Muito provavelmente por se chamar alguma coisa como Cleovaldo e querer ter tido a oportunidade de um segundo nome para, com sorte, poder escolher se apresentar com ele).
Onde é que já se viu isso? Nome composto obrigatório. Brasil da América, presente querido professor.
Se era verdade, até hoje eu não sei. Só sei que meus pais acataram, com uma grande ideia, claro: "Vamos escolher um nome curto, a gente o ignora e chama ela de Michelly!". Aplausos emocionados invadiram a sala. Eu me lembro que chorei, mas acharam que era cólica composta e me deram chazinho.
Meu pai foi em direção ao cartório com uma missão curta e nobre: Susy Michelly.
Isso mesmo. Susy seria o nome curto a ser ignorado pela posteridade. Sim, o primeiro nome. Mero detalhe.
Acontece que minha mãe até para ignorar queria caprichar e foi clara com meu pai: Suzy com dois S, com Z é feio.
Meu pai, esposo sensato, tratou de obedecer: “Suzy com 2 S!”. O moço do cartório, mais sensato ainda, nem questionou.
Ficou assim. Sussy com 2 S, no meio.
Quando chegou com a certidão em casa foi que meu pai percebeu o erro. Minha mãe brigou: "Não era assim! Era um S no começo e outro no meio!" "Agora é que ignoro mesmo", sentenciou.
E assim fizeram, pelo menos até eu entrar para a escola.
As professoras jamais ignoram o primeiro nome. Mesmo que ele seja Armandonilda e o segundo nome, Daniela. Elas vão sempre chamar você de Armandonilda, apenas para deixar a hora da chamada mais descontraída.
Foi naquela época, por volta dos 6 anos, que nasceu a Sussy, na escola.
Para a família continuo sendo a Michelly. Para o meu avô, que atendeu o telefone de casa esses dias, "não tem nenhuma Sussy aqui não". Para a maioria dos amigos: "Michelly? Quem é Michelly?".
E eu? Ah, eu me divirto.