sábado, maio 31, 2008

A Tristeza e o olho. Ou a tristeza do olho. Ou o olhar da tristeza.

Difícil lembrar de quando foi apresentado a ela.
Difícil saber quando foi que ficaram tão íntimos.
Ele estava lá, distraído, e de repente ela chegou. De uma vez só.
Ou talvez estivesse chegando aos pouquinhos e ele não percebeu.
Difícil lembrar quando ele conheceu essa tão sem-cerimônia, que hoje entra sem bater em seu peito e pensamentos. E fecha a porta de sua geladeira. Quanta intimidade!
E de tão espaçosa, se esparrama dentre dele.
E se esparrama e se esparrama. E aperta tudo o que está lá dentro.
Sem espaço para mais nada, de tão nervoso ele sua frio.
O olho chora.

O Suspiro

Quando o pulmão rouba o ar só pra saber se ainda vive.
E o liberta porque naquele instante tem certeza que sim.
ai ai...

Loja de animais

A desolação entra. Muito suja, nenhum cheiro de pinga. Nas suas mãos uma pomba, que naquele momento não parecia ser o símbolo da paz. Ela, a desolação e não a pomba, toma a forma de um homem. Um homem desolado, mas um homem. Ele fala rápido. Ele quer vender a pomba. Há lógica em seu raciocínio. Foi vendê-la num Pet Shop, afinal.
- Compra ela!
- Mas a gente não vende pomba.
- Compra ela!
- O que eu vou fazer com essa praga? Tem aos montes por aí.
- Mas eu peguei ela pra você... E ela é treinada.
- Ah... ela é treinada?! O que ela faz?
- Ela é treinada para voar.

A incredulidade faz uma pausa. E fala.

- Deixa eu ver.

E a desolação em forma de homem solta a pomba para provar que ela voa. E a pomba pra provar que é treinada, bate as asas da fuga e some.

- Eu compro! Vá buscá-la pra mim.

E a desolação voa dali, atrás da paz.

terça-feira, maio 27, 2008



Desembucha! Ele disse.
E uma flor nasceu.