- A bolsa! A bolsa! Rápido...
Ele nem sabia como havia dito aquilo com tanta violência. Teria mesmo empregado violência naquelas palavras? Não sabia. Só lembrava do olhar da moça. Ela olhava para a bolsa com tanto desespero que ele imaginou ter tirado a sorte grande. Devia ter muito dinheiro lá dentro. E ele correu. O mais rápido que pode, sem olhar pra trás. Chegou ao seu barraco e jogou o canivete na mesa seca. Sentado na cama bagunçada abriu a bolsa, dessa vez com violência, tinha certeza. Um sitpass, uma nota de 2 reais, moedas, um batom rosa gasto, um espelhinho, um caderninho pequeno, documentos com fotos tiradas em lambe lambe, uma conta de água. Era só isso? Não era possível. E ele lembrava do olhar da moça que perdia seu tesouro. Com raiva, jogou tudo no chão. O caderninho se abriu, numa página escrita em letras desenhadas. E ele pegou o caderno e com alguma dificuldade leu tudo, 3 vezes. Nunca tinha lido nada parecido. Eram as primeiras páginas do caderno, o restante estava em branco. Ele passou toda a noite lendo e relendo e secando lágrimas. No outro dia, quando ainda secava as suas, a moça abriu sua caixa de correios e lá estava um envelope pardo com seu nome escrito em letras forçadas. Ela o abriu sem muito interesse e viu seus documentos, uma conta de água que havia pago no dia anterior e, para a sua surpresa, páginas arrancadas de seu caderninho. Eram as únicas páginas escritas, tinha certeza, e estavam lá. Ela levou as páginas à boca e as beijou como se reencontrasse a si mesma. Do outro lado da rua, o rapaz repetia o gesto dela, segurando com ternura o caderninho cujas primeiras páginas haviam sido arrancadas. Naquele instante, ela recuperava sua história e ele começava outra.
(um dia desses por aí, aconteceu de verdade: um roubo e um resgate)
Um comentário:
Ainda bem que alguma coisa ainda consegue tocar no coração das pessoas...
Postar um comentário