sábado, março 29, 2008

Na pele.

Bento estava na sala de espera e contra seu espírito intempestivo fazia o mesmo que os outros: esperava. Cada um tem uma maneira de fazer isso. Uns folheiam uma revista, outros papeiam com a pessoa do lado, contam botões, decoram os movimentos do relógio. Ele remexia os lábios. Era como se estivesse decorando algo que estava prestes a dizer. E foi como se ouvisse o “ação!” que ele se levantou de uma vez quando a secretária o mandou entrar.
- Macaca!
Bradou apontando o indicador para a médica que o olhava em estado de choque.
- Macaca! Macaca!
Ele repetia como se dissesse um mantra interminável, para ele e para a médica.
- Mas o que está acontecendo aqui? O senhor é louco? Saia imediatamente!!!
- Mas a senhora já se irritou? Eu só falei 3 vezes... Imagine então meu neto que a vida inteira tem sido chamado de MA CA CO na escola.

Dito isso, entregou à médica um papel que a ela parecia familiar. Era uma autorização de cirurgia que ela havia negado um mês antes: o plano não cobria aquele procedimento.
Mas naquele dia Bento saiu do consultório com o papel assinado. Estava marcada a desmacaquização de seu netinho.

Aconteceu de verdade, num hospital de verdade, com um avô de verdade.

2 comentários:

Mariana Paiva disse...

Argumentos.
A resposta certa pode estar lá.

As vezes as pessoas só nos dão a resposta de acordo com o nosso estímulo. Resposta errada, estímulo não eficaz.

Macaca!

Anônimo disse...

Voce é a minha sussy preferida!!!!