sexta-feira, junho 15, 2007

Do tempo em que eu festejava o dia dos meus anos.

Uma música começou a tocar e sem que eu me desse conta, uma lágrima escorreu.
Era um trecho da poesia “Aniversário”, de Fernando Pessoa, na voz de Maria Bethânia – Canção Desnaturada. A trilha sonora perfeita para aquele dia...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
...
Pára, meu coração!

Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos, 15-10-1929

Um comentário:

Mariana disse...

que tenha lágrima, mas que possam vir sorrisos depois.

abraço.